#88
Construcción (Construção – 1971)
Por Chico Buarque
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Amou daquela vez como se fosse a última
Besó a su esposa como si fuera la última
Beijou sua mulher como se fosse a última
Y cada hijo tuyo como si fuera el único
E cada filho seu como se fosse o único
Y cruzó la calle con su paso tímido
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Construyó cuatro paredes sólidas en el rellano
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Ladrillo con ladrillo en un diseño mágico.
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Tus ojos embotados con cemento y lágrimas
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comí frijoles y arroz como un príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebió y sollozó como un náufrago
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Bailaba y reía como si escuchara música
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
Y flotó en el aire como un pájaro
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
Y terminó en el suelo como un paquete flácido
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizado en medio de la pasarela pública
Agonizou no meio do passeio público
Murió contra el tráfico, interrumpiendo el tráfico.
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Besó a su esposa como si fuera la única
Beijou sua mulher como se fosse a única
Y cada hijo suyo como si fuera el pródigo
E cada filho seu como se fosse o pródigo
Y cruzó la calle con su paso de borracho
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Construyó cuatro muros mágicos en el rellano.
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Ladrillo con ladrillo en un diseño lógico.
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Tus ojos se apagan por el cemento y el tráfico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comí frijoles y arroz como si fuera el mejor
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
bebía y sollozaba como una máquina
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Bailó y se rió como si fuera el próximo
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
Y flotó en el aire como si fuera sábado
E flutuou no ar como se fosse sábado
Y si terminaba en el suelo como un paquete tímido
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizado en medio del viaje naufragado
Agonizou no meio do passeio náufrago
Murió contra la corriente, perturbando al público
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Besó a su esposa como si fuera lógico
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Levantó cuatro paredes flácidas en el rellano
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
se sentó a descansar como un pájaro
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
Y flotó en el aire como un príncipe
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
Y si terminaba en el suelo como un paquete borracho
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Murió contra la corriente, perturbando el sábado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
El certificado de nacer y la concesión de sonreír
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por dejarme respirar, por dejarme existir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Salud
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Por el humo y la desgracia tenemos que toser
Pela fumaça e desgraça que a gente tem que tossir
Por los andamios colgantes que tenemos que caer
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair
Salud
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
Y por las moscas gusanos besándonos y cubriéndonos
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
Y por la paz suprema que nos redimirá por fin
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
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#88
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